Em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saiu na manhã deste domingo (29) de sua residência oficial, o Palácio da Alvorada, em Brasília, para visitar pontos de comércio local e o Hospital das Forças Armadas (HFA).
A visita de Bolsonaro a diferentes pontos de Brasília causou aglomeração de pessoas, no momento em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda isolamento para evitar o contágio pelo novo coronavírus, que já causou 114 mortes no Brasil.
O giro do presidente ocorre um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do novo coronavírus.”Todo o comércio está falando: eu quero abrir, eu quero abrir, eu quero abrir. Calma. Nós vamos ter que fazer isso com uma regrinha para vocês saberem”, disse o ministro sobre o isolamento.
Mandetta criticou, por exemplo, as carreatas, impulsionadas por discurso do próprio presidente, que pedem a retomada da rotina em alguns estados – em São Paulo, uma delas passou pelo centro da cidade na manhã deste domingo, sendo recebida com panelaços em alguns prédios e gritos de “Fora, Bolsonaro”.
Além de Mandetta, Paulo Guedes, ministro da economia, se diz preocupado com a economia e também com o vírus. O ministro disse que o período de isolamento como medida de combate à pandemia de coronavírus pode ser mantido por dois ou três meses, mas que depois desse período é preciso liberar as pessoas para o trabalho.
“Esse equilíbrio é difícil. Coisa de dois, três meses vai rachar para um lado ou para o outro. Ou funciona o isolamento em dois meses ou vai ter que liberar porque a economia não pode parar também, senão desmonta o Brasil todo”, disse Guedes. “Eu como economia gostaria que nós pudéssemos manter a produção e voltar mais rápido. Eu como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da saúde, ao contrário, quero ficar em casa e manter o isolamento”, alegou o ministro.
No entanto, além de ignorar as medidas propostas por cientistas e profissionais da saúde para refrear o contágio do coronavírus, o presidente disse ainda a jornalistas ter “vontade” de baixar decreto para população poder trabalhar.
“Eu estou com vontade, não sei se eu vou fazer, de baixar um decreto amanhã: toda e qualquer profissão legalmente existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para levar o sustento para os seus filhos, para levar leite para seus filhos, para levar arroz e feijão para casa, vai poder trabalhar”, afirmou.
Questionado se o texto já estava em estudo, Bolsonaro afirmou que havia acabado de pensar nessa ideia, enquanto falava com jornalistas na porta do Palácio da Alvorada. “Alguns querem que eu me cale. ‘Ah, siga os protocolos, quantas vezes o médico não segue o protocolo? Por que que ele não segue? Porque tem que tomar decisão naquele momento. Eu mesmo, quando fui operado em Juiz de Fora, se fosse seguir todos os protocolos, fazer todos os exames, tinha morrido”, disse o presidente ao voltar ao Alvorada após fazer um giro pelo comércio do Distrito Federal.
O presidente defende o isolamento vertical, ou seja, apenas de grupos de risco, enquanto a orientação do Ministério da Saúde é para o isolamento social de toda a população. Na contramão disso, Bolsonaro voltou a afirmar que é preciso se preocupar com o vírus, mas que a questão do desemprego deve ser priorizada.
Ele justificou sua ida a pontos de comércio local, como em Taguatinga e Ceilândia, cidades satélites da capital federal, como uma forma de “ouvir o povo” sobre os problemas do Brasil.
“‘Ah, você viu o que o governador falou? O que o vice falou?’ Não me interessa”, disse Bolsonaro, indicando que deve seguir destoando de outras autoridades, como os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, além de seu vice, general Hamilton Mourão.