O novo pacote de tarifas anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem causado apreensão no agronegócio brasileiro — um dos principais pilares da economia nacional e motor de crescimento do PIB nos últimos anos. A partir de 1º de agosto, todos os produtos exportados pelo Brasil para os EUA serão taxados em 50%, conforme divulgado pelo governo norte-americano na quarta-feira (9).
A medida representa um agravamento das barreiras comerciais impostas anteriormente. Em abril deste ano, o Brasil já havia sido afetado com tarifas de 10% e segue impactado pelas taxas específicas aplicadas sobre aço e alumínio, que permanecem em 50%.
Segundo Trump, a decisão de ampliar a taxação tem origem em “ações hostis” contra o processo democrático, em referência à situação política envolvendo o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o norte-americano criticou o que chamou de “ameaças às liberdades eleitorais” e afirmou que o Brasil não está “sendo um parceiro leal”.
O anúncio causou imediata reação no setor agropecuário, especialmente em cadeias estratégicas como carne bovina e suco de laranja, duas das principais exportações brasileiras para o mercado americano.
Exportações em risco
Os Estados Unidos são atualmente o segundo maior destino dos produtos do agronegócio brasileiro, ficando atrás apenas da China. Em 2024, o país respondeu por 7,4% do total exportado pelo agro nacional — um crescimento em relação aos 5,9% registrados no ano anterior. O volume embarcado alcançou 9,4 milhões de toneladas e gerou cerca de US$ 12 bilhões em receitas.
Carne bovina: impacto direto
Entre janeiro e março de 2025, o Brasil exportou 181,4 mil toneladas de carne bovina para os EUA, gerando mais de US$ 1 bilhão em receita. Com a nova tarifa de 50%, o setor teme uma retração significativa nos embarques.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) se manifestou em nota oficial, destacando que a medida representa um “grave obstáculo ao comércio internacional” e prejudica diretamente o setor produtivo. A entidade também reforçou que disputas políticas não devem ser usadas como barreiras que comprometam a segurança alimentar global.
Setor de sucos também pode amargar prejuízos
O mercado de suco de laranja, no qual os Estados Unidos são os principais compradores do Brasil, também deverá sentir os efeitos da decisão. A CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) estima que a elevação das tarifas poderá resultar em prejuízos superiores a R$ 1 bilhão por ano.
Na projeção mais recente, com base em dados de abril, o setor previa o embarque de 235,5 mil toneladas para o mercado norte-americano. A taxa adicional anunciada pode acarretar custos extras de cerca de R$ 585 milhões por ano para os exportadores.
Clima de incerteza
O agronegócio brasileiro se vê diante de um cenário delicado: ao mesmo tempo em que é altamente competitivo no mercado internacional, torna-se vulnerável a mudanças abruptas na política comercial de seus principais parceiros.
Lideranças do setor e autoridades ligadas à diplomacia comercial seguem acompanhando o caso. Nos bastidores, o governo federal avalia estratégias para mitigar os efeitos do tarifaço e preservar a competitividade do agro brasileiro no mercado global.
