Ela morreu há 3 meses, mas está sendo mantida viva para gestar o filho

coisasdeitupeva
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Uma mulher grávida de 30 anos, declarada com morte cerebral no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, está sendo mantida em suporte de vida há mais de três meses para garantir que a gestação avance o suficiente até o parto, em cumprimento à legislação estadual sobre aborto. O caso levanta discussões sobre os limites da autonomia familiar diante de leis rígidas.

Adriana Smith, enfermeira e mãe de um menino de cinco anos, foi internada após sentir fortes dores de cabeça. Inicialmente atendida e liberada por um hospital em Atlanta, ela sofreu uma piora no dia seguinte. Segundo a mãe, April Newkirk, seu companheiro a encontrou com dificuldade para respirar e acionou os serviços de emergência. Ao ser transferida para o Hospital da Universidade Emory, foi diagnosticada com coágulos no cérebro e declarada com morte cerebral — condição legalmente considerada como morte.

Mesmo diante desse quadro, os médicos não puderam suspender os aparelhos de suporte vital. A legislação da Geórgia, em vigor desde a anulação do caso Roe v. Wade pela Suprema Corte em 2022, proíbe o aborto após a detecção de atividade cardíaca no feto, o que geralmente ocorre por volta da sexta semana de gestação. A gravidez de Adriana havia alcançado a 21ª semana quando a situação foi divulgada.

Limites legais e debate ético

Segundo a Emory Healthcare, embora não possa comentar casos individuais por questões de privacidade, a instituição segue “orientações clínicas, literatura médica e a legislação vigente” para decisões relacionadas ao cuidado médico. A legislação estadual prevê exceções apenas em situações específicas, como risco iminente à vida da gestante.

Ainda assim, especialistas e ativistas dos direitos reprodutivos têm criticado a rigidez da lei. Monica Simpson, diretora da organização SisterSong, que atua em defesa da justiça reprodutiva, declarou: “A família deveria ter o direito de tomar decisões médicas. Em vez disso, enfrentam sofrimento prolongado, altos custos e a dor de não poder seguir adiante.”

A mãe de Adriana relatou que os médicos alertaram para possíveis complicações no feto, como acúmulo de líquido no cérebro e riscos de deficiência severa. Apesar disso, não foi divulgado se a família deseja a suspensão do suporte vital.

Consequências da legislação

O caso de Adriana Smith é um dos mais recentes a expor os impactos práticos da nova configuração legal nos Estados Unidos após a decisão da Suprema Corte que revogou o entendimento constitucional anterior sobre o direito ao aborto. Atualmente, 12 estados norte-americanos aplicam proibições em todas as fases da gestação, e outros três — incluindo a Geórgia — têm restrições a partir das primeiras semanas.

Enquanto a família continua visitando Adriana no hospital, o caso segue mobilizando o debate público sobre os direitos das famílias, a autonomia médica e os efeitos de legislações rígidas diante de situações complexas e sensíveis.

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